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Gerou-se uma certa discussão pública sobre a situação, mas uma vez mais as questões centrais relativas aos “Public Affairs” e ao “Lobbying” foram abordadas pela rama. O acesso pretendido por essa empresa, é aquele que qualquer pessoa hoje tem aos ilustres deputados e aos grupos parlamentares. Estou convencido que a publicitação da referida carta, e das intenções a ela subjacentes, resultam da inteligente vontade de legitimar a presença dessa agência nos corredores de S. Bento. Solicitamente os serviços da Presidência da AR anunciaram que vão investigar a matéria, e, por certo, iniciarão os seus trabalhos por tudo aquilo que já foi feito na própria AR. Espero enganar-me, mas julgo que esta nova investigação vai ter o mesmo destino de todas as outras feitas até à data.
Aquilo que me incomoda na discussão sobre estas matérias em Portugal, é que toda a gente sabe que o processo legislativo no nosso país é complexo, multipartido e carregado de momentos consultivos, mas ninguém quer assumir essas características. Toda a gente sabe que uma infinidade de agentes económicos, sociais e políticos, interagem com os mais diversos níveis das máquinas executiva, legislativa e administrativa, mas ninguém chama pelo nome estas interacções. Toda a gente critica as estratégias de defesa de interesses que as mais diversas entidades utilizam, quando na comunicação social aparecem a dar recados à governação, mas ninguém faz nada para regular este mercado da opinião e da defesa de interesses. Toda a gente sabe que muitas sociedades de advogados, consultoras de comunicação, consultores de estratégia, entre outros se dedicam aos Public Affairs, à consultoria em Políticas Públicas ou ao conselho em Lobbying, mas ninguém pretende discutir abertamente estas questões ou contribuir para a sua clarificação.
Com esta estratégia de avestruz a ser posta em prática, iremos continuar a alimentar a desconfiança e a suspeição, o cinismo e a hipocrisia relativamente a uma actividade legítima e necessária à democracia que é o Lobbying.