“O desconhecimento leva à desconfiança, e por consequência ao cinismo e à hipocrisia”. Lembro-me sempre destas palavras, a seu tempo ditas por uma professora da Freie Universität Berlin, quando em Portugal se fala de Lobbying. O tema voltou recentemente a ser falado entre nós devido ao facto do presidente de uma agência de comunicação ter escrito ao Presidente da Assembleia da República pedindo acesso especial dos seus funcionários aos corredores do Parlamento.
Gerou-se uma certa discussão pública sobre a situação, mas uma vez mais as questões centrais relativas aos “Public Affairs” e ao “Lobbying” foram abordadas pela rama. O acesso pretendido por essa empresa, é aquele que qualquer pessoa hoje tem aos ilustres deputados e aos grupos parlamentares. Estou convencido que a publicitação da referida carta, e das intenções a ela subjacentes, resultam da inteligente vontade de legitimar a presença dessa agência nos corredores de S. Bento. Solicitamente os serviços da Presidência da AR anunciaram que vão investigar a matéria, e, por certo, iniciarão os seus trabalhos por tudo aquilo que já foi feito na própria AR. Espero enganar-me, mas julgo que esta nova investigação vai ter o mesmo destino de todas as outras feitas até à data.
Aquilo que me incomoda na discussão sobre estas matérias em Portugal, é que toda a gente sabe que o processo legislativo no nosso país é complexo, multipartido e carregado de momentos consultivos, mas ninguém quer assumir essas características. Toda a gente sabe que uma infinidade de agentes económicos, sociais e políticos, interagem com os mais diversos níveis das máquinas executiva, legislativa e administrativa, mas ninguém chama pelo nome estas interacções. Toda a gente critica as estratégias de defesa de interesses que as mais diversas entidades utilizam, quando na comunicação social aparecem a dar recados à governação, mas ninguém faz nada para regular este mercado da opinião e da defesa de interesses. Toda a gente sabe que muitas sociedades de advogados, consultoras de comunicação, consultores de estratégia, entre outros se dedicam aos Public Affairs, à consultoria em Políticas Públicas ou ao conselho em Lobbying, mas ninguém pretende discutir abertamente estas questões ou contribuir para a sua clarificação.
Com esta estratégia de avestruz a ser posta em prática, iremos continuar a alimentar a desconfiança e a suspeição, o cinismo e a hipocrisia relativamente a uma actividade legítima e necessária à democracia que é o Lobbying.