20.3.08

crónicas # 5 oje sobre comunicação pública

O actual primeiro-ministro é um dos chefes de governo mais prudentes, em termos de gestão da imagem, que Portugal teve nos últimos tempos. Consegue grandes níveis de eficácia na gestão dos conteúdos e dos relacionamentos com os mais diversos sectores da sociedade portuguesa. Em termos pessoais, tem gerido com “mão de ferro” a agenda do executivo e de forma sábia tem mantido a liderança do discurso sobre os assuntos públicos, conseguindo que poucos sejam os temas essenciais à governação, e às percepções da população sobre eles, que escapem à marcação efectuada pelo seu staff. Só há uma área deste sistema de comunicação pública, exemplarmente montado, que tem escapado ao chefe do executivo. Refiro-me, obviamente, ao que de mais imponderável há no universo: as pessoas. Por muito que o chefe do governo defina regras, estabeleça princípios e acerte compromissos com os membros do seu governo, não consegue controlar aquilo que são as formas de trabalhar próprias e as personalidades mais ou menos carismáticas que os diversos Ministros apresentam. É por essa razão que, de vez em quando, Sócrates chama a si certos dossiers e processos. É inevitável. É o modo mais imediato de gerir as contingências e limitar alguns danos inerentes a certas tomadas de posição individuais. Ministros há, que esquecem, pontual ou sistematicamente, as suas posições relativas num sistema mais vasto que é o da governação do país. Como cidadão, gostava que todos os governantes soubessem estar na vida pública e que tivessem uma noção clara da sua posição e do papel social que desempenhavam enquanto representantes do Estado. Com esta afirmação não pretendo pôr em causa a valia técnica, nem os méritos enquanto especialistas nas suas áreas. Muito menos questiono o trabalho de planeamento e programação dos gabinetes ministeriais. Aquilo que me desgosta e que não queria que acontecesse é o descuido relativamente à dimensão explicativa e discursiva inerente ao exercício de cargos públicos. Quem está nestes cargos está ao serviço do país e dos cidadãos, a quem tem que obrigatoriamente explicar as razões pelas quais está a tomar decisões e porque são aquelas as melhores para o país. Para além das dimensões política, técnica e ético-política, há outras duas dimensões essenciais à governação: por um lado a dimensão representacional; por outro a comunicativa. Gostava que os mais ilustres comentadores políticos da nossa praça, que enchem os nossos serões televisivos, não tivessem que explicar isto todas as semanas.