20.3.08

crónicas # 8 oje comunicação interna

Num estudo desenvolvido pela APCE, e apresentado há umas semanas nas páginas deste jornal, afirmava-se que só cerca de 4% das empresas têm um departamento de comunicação interna. Obviamente este valor é meramente indicativo e não dá conta da verdadeira percentagem de empresas que formal ou informalmente já desenvolveram e mantêm activos mecanismos ou sistemas de comunicação interna. Independentemente da relevância estatística do estudo ou da existência ou não de outros factores de enviesamento, aquilo que vale a pena analisar e reflectir é o repto que era lançado no título desse mesmo artigo: “Comunicação Interna precisa-se!”. Mas precisa-se para quê e porquê?

Antes de ensaiarmos uma resposta é preciso sublinhar que quando se fala de comunicação interna não se assume uma perspectiva táctica, isto é, não estamos a falar exclusivamente dos instrumentos e mecânica da comunicação interna e, por consequência, dos ultrapassados mas correntes jornais de empresa, newletters, revistas, ou, ainda mais caricato, painéis e quadros de aviso e caixas de sugestões, ou, mais modernamente, as intranets não interactivas. Quando escrevo sobre estes temas recordo-me sempre de um estudo desenvolvido há muitos anos por uma universidade norte-americana que salientava que o jornal de empresa que mais sucesso tinha, de todos quantos tinham sido estudados, era o de uma pequena publicação monocromática policopiada que era produzida democraticamente por todos aqueles que queriam participar. O interessante deste caso é que o sucesso da publicação resultava mais do sentimento de partilha e de coordenação entre pares do que propriamente da informação que lá vinha publicada.

Esta conclusão remete-nos imediatamente para a resposta à pergunta formulada: a comunicação interna é necessária porque...é bom negócio! A comunicação interna pensada de uma forma estratégica, ou seja como sistema capaz de difundir conhecimento e de motivar a coordenação de esforços para a resolução dos problemas organizacionais que as empresas enfrentam todos os dias, dá lucro. Um artigo recente do McKinsey Quarterly revelava que o EBIDTA por empregado (universo de empresas de diversos sectores) intra-indústria era tanto maior quanto maior era o volume de interacções tácitas entre empregados, considerando interacções tácitas aquelas que ocorrem de forma colaborativa e não autoritária entre colaboradores, no sentido de resolver problemas complexos que são enfrentados pelas empresas.

O estudo revelava muito mais coisas, mas uma das conclusões que podemos extrair é que as empresas competitivas do presente e do futuro são baseadas em conhecimento, conhecimento este que se encontra disperso intra e inter-organizacionalmente. A capitalização deste conhecimento a favor da construção de vantagens competitivas para as empresas só pode ser conseguido através da colaboração entre todas as pessoas que acrescentam valor aos produtos e serviços vendidos. E para isso acontecer são necessárias networks de informação e de co-resolução de dificuldades. É preciso criar capital relacional, que só é conseguido pela existência de uma cultura empresarial facilitadora e de um clima organizacional de abertura, capazes de gerar confiança. Esta é a grande meta: montar um sistema de comunicação interna capaz de gerar confiança. É disto que as empresas portuguesas precisam.